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sábado, 14 de maio de 2016

 Só? Letrando...

Resultado de imagem para letras
Apologia da letra!
Basta de letra morta,
Capitular,
Diz a letra matter.
É mister a letra errante,
Feita da matéria errada,
Generosa letra negra,
Hoje assombrada,
Ignorante ou calígrafa,
Já fora garatujal?
Limo da palavra construída,
Matéria prima,
Nano-signos
Ou traços?
Pontes, passos, parcos
Quase possíveis.
Rebeldes, rebentos, retraços...
Seus caminhos?
Trilhas de tórrido hermetismo
Uroboros ilimitado
Volúveis e voláteis
X da questão
Zonas de sentidos em suas potencialidades.


                                                               Patrícia Germano (14.05.16)
Site para se pensar a literatura em ambiente virtual

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Carnaval com o Senhor!

A expectativa se sobrepunha às vivências nos carnavais de outrora.
Com trajes herdados das moças pernambucanas ou remanufaturados pelo trabalho criativo de minha mãe, saía eu às ruas da pequena cidade colecionando o sonho de enfeitar a matinê, onde em metamorfose de máscaras e rutilantes fantasias, desabrochava identidades. 
Além do encantamento, o carnaval preenchia todos os espaços do meu ser. Num turbilhão de sentimentos, eu  era capaz de experimentar, a um só tempo,  a alegria e o temor, a euforia e o horror, principalmente porque, os moleques e malandros, libertos dos cabrestos e convenções, teimavam em praticar o entrudo, maculando a elegância das fitas e dos plissados com as mais inusitadas misturas atiradas em alvos imprevisíveis. 
Era bem isso o carnaval: a festa em que a submissão era abolida, o toque  permitido e a ousadia, a lei! Eis a festa do momo: a supressão da ordem estabelecida, a inversão dos papéis, a amnésia da hierarquias... O reinado temporário do povo em seu riso ambivalente e regenerador.
Durante o dia, as brincadeiras com lanças de água, o mela-mela com pó de arroz e talco, as "costas-nuas" desconstruídas -  improvisadas carruagens de barulho e de emoção; a refeição fora de hora, o direito delicioso de gozar o frescor da roupa molhada secando no corpo; o insulto desafiador às catirinas e às ala-ursas, a perseguição das burrincas e dos bois: nossos centauras de chitas e chicotes; a tentativa de desvendar os segredos dos mais perfeitos e misteriosos papangus...
Ao cair da tarde, a hora das fantasias, dos desfiles nas calçadas, dos cordões! Baianas, melindrosas, bailarinas e super-heroínas rondavam o meu imaginário. Quem sairia mais bela?
O carnaval, em sua eventual magia, condensava vaidades, experimentos, sensações...
Muitas lembranças  ecoam da memória cada vez que a metaleira ensandecida  sobe e desce essas serras e ladeiras no seu grito festivo e de renovação!
Os bailes noturnos, por esta época, eram um espetáculo a parte. Os preparativos para as quatro noites de folia eram antecipados em meses, porque a transformação das moças em piratas, em doces colombinas, em índias repletas de sensualidade ou em palhacinhas inocentes, requeriam capricho e criatividade, além de um incansável esmero. 
Caçula, "patinho feio" de uma clã repleto de moças, eu esperava religiosamente os instantes que  antecediam a saída de minha gente para o baile, o momento em que os arranjos e maquiagem faziam nascer as atuações mais perfeitas. 
Ali, num gesto da mais extrema superioridade que somente a juventude é capaz de lançar à puberdade, eu desfrutei pela primeira vez dos milagres da maquiagem: o colorido do rouge, a maciez escorregada do batom, o sombreado do olho em arco-íris desmanchado pelo risco do lápis em sua escrita lacrimejante.  Algumas estrelinhas coladas com saliva nas bochechas e pronto! O mundo se enchia de novas possibilidades! Uma nova menina se projetava no espelho-espectro de minhas vontades mais recônditas: ser qualquer coisa, menos aquela criança!
Os sonhos borbulhavam num universo de faz-de-conta e, por poucos momentos, eu era odalisca, havaiana, princesa... Enfim, a Cinderela que pelas intrépidas badaladas dos meus pais, era conduzida ao borralho.
O desapontamento desses instantes só era diminuído por outro ainda mais medonho: a sensação de injustiça, sorvida gole a gole, ao presenciar o cortejo de primas e irmãs na saída vitoriosa para o clube onde, certamente, desfrutariam do mais genuíno carnaval...
A mim, restava a mais horrenda fantasia: a camisola de babado,  aquela que não mais se enquadrava com os desejos em ebulição. Traje roto e sem  brilho, com muitos laços delicados e tímidos, incapazes, por si só, de me amarrarem ao que quer que fosse!
Embriagada pela mágoa, muitas das minhas noites carnavalescas foram palco para burilar sórdidos planos. Maquinava maldades inconfessáveis. Ansiava pelo fim trágico do baile! Rogava a Deus que nenhuma de minhas amigas fosse eleita a Rainha do Carnaval, conquanto não suportasse a ideia de vê-las reinando numa corte onde eu fora impedida de competir. Tamanha injustiça!
Na terça-feira gorda, em especial, dedicava-me a uma noite de carpideira vigília, porque era no ápice da festa que a sociedade escolhia, pela pecúnia, a tão esperada Rainha cuja coroação ocorreria, tradicionalmente,  no fim Quaresma. 
Na madrugada das quarta-feira de cinzas, as ruas de minha terra eram acordadas pelo som de frevos e marchinhas cantaroladas pelo  cortejo de súditos da mais nova rainha respeitosamente reconduzida ao seu "palácio" onde familiares, despertos, recebiam a todos de acordo com as suas possibilidades bacanianas. No silêncio da madrugada provinciana era possível se descobrir quem reinaria naquele ano simplesmente pela direção que a orquestra tomava. 
Naquela  terça-feira, especificamente naquela que seria uma das últimas noites de carnaval de minha infância, amarguei um ódio incontido, uma vontade desesperada de impedir que minhas irmãs e primas usufruíssem de tanta felicidade ovacionada pelos confetes e serpentinas. Elas estavam lindas! Caprichosamente travestidas de saltitantes clows! Eu precisava fazer qualquer coisa! Eu precisava ser feliz !
"Os risos e as alegrias daqueles bloco feminino de palhaços no salão"  revigoravam meu gigantesco despeito infantil  mal ocultado por meu semblante, agora, "uma máscara negra". A "marcha regresso" ao fim da festa, coroaria o meu desalento.  "As águas que viriam a rolar" por sob meu travesseiro, levavam com elas os derradeiros tons da alegria carnavalesca juntamente com as últimas nuances do carmim. 
Na solidão da noite, passados  apenas o tempo dos soluços serem mais espaços, ouvi a voz do bloco familiar voltando para casa. De perucas em punho, decepcionadas com a chegada prévia da quaresma, desta vez acompanhada pela morte, as folionas regressavam. No auge da festa, um dos mais lendários brincantes morrera de um ataque cardíaco. O tragicômico trazendo ao carnaval o seu final apoteótico. 
Enquanto os mais velhos se desocupavam da infância para, em intermináveis diálogos,  dedicarem-se a surpresa da morte, feliz da vida,  tive tempo de me vestir com a suada fantasia de uma das minhas irmãs e de dançar defronte ao espelho num baile onde apenas eu era a rainha." Ai, ai, ai, está chegando a hora... "
Assim, nos últimos acordes de uma terça-feira de carnaval, tive o meu mais verdadeiro encontro com a fé: a certeza de que Deus, em sua infinita bondade, ouvira cada uma das minhas lamentações determinando implacável, o fim da folia, já que da melhor parte dela, eu não pudera participar. Como cúmplice num ato, executando como maestria os meus planos não importando os meios, mas sobretudo os fins! Ele se fez presente!
Numa abnegação contrita, pois distante estava eu de qualquer relativismos, agradeci ao Senhor a sua mais que divina prontidão! 
 Poucos dias depois, por ocasião da Primeira Eucaristia, esse pecado tão grave ecoava em minha consciência. "Por mea culpa, mea máxima culpa! "  Um pobre homem tinha perdido a vida durante o carnaval.  Para arquitetar tão hediondo crime e para atenuar meu delito, carente de absolvição, expliquei que não agira sozinha, tivera como cúmplice e executor a figura de Nosso Senhor!
 Que punição merecíamos? 


quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Poesia do dia...


Caminhos da Escola

A ESCOLA deve ser:

L ugar de ser você...
I  nebriante ânsia,
B endita esperança...
E scolha de uma vida,
R iqueza merecida...
D ivinizada unção,
A todos, comunhão ...
D evir maior que o ter,
E spaço de poder...

O grito de alerta
U lulante e desperta!

P recisa em evitar... punir ou massacrar,
R atificar o erro,
I  móvel do desprezo...
S omente se eximir 
Ás vezes, se
O M I T I R !



                                                                                                 Patrícia Germano.
                                                                                                         (30.01.14)

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Poesia do dia!!!

     Infância

Findo já o tempo
Em que o doce em cone,
Feito a confeito, desfazia-se em seda
Na minha gula infantil.

Meus sonhos, açucarados, desmanchavam-se confiantes
Na boa-nova dos ventos
Um coral de trovadores dos outeiros da matriz

Bandeirolas trêmulas
agitavam-se por entre as cordas tesas da noite...
Árvores de um rosado algodão
Exerciam felizes rotas de nomandismo
Espalhando, em frutos, a maciez e o mel.

O carrossel redundante
Submetia seus infatigáveis alazões ao gosto da meninada...
Uma esquadra de valentes canoas
Singrava os mares com vibrante ilusão...
E eu acreditava na promessa dos sinos...
E eu acreditava na harmonia dos sons...
E mais que tudo,
Na suavidade da brisa...
Que desfazia meus cabelos
Que assombrava os meus  medos
Que me enchia cada recanto
Com a novidade de uma eterna festa.

                                                                                                   Patrícia Germano
                                                                                                                   ( 27.01.2014)